Opinião


Podas: Sobreviventes da Serra
Há trinta e sete anos que sou filho dessa querência. Quem a conhece sabe o quanto bom é estar no Morro do Cristo ao entardecer e apreciar o por do sol, acampar ou pescar nos rios que correm fazendo sua divisa, pedalar ou caminhar no autódromo, ferrovia ou em nossas matas com seus riachos e sua vegetação densa característica.
Com toda essa paixão não só por nossa Guaporé, mas pela Mãe Terra, venho a algum tempo me dedicando a pesquisas e estudos relacionados ao ajardinamento nas cidades, sustentabilidade, áreas verdes urbanas, meio ambientes entre outros. Todos esses estudos voltados a formas de amenizar os efeitos causados pelo crescimento populacional por meio do paisagismo. Incluo nos estudos um curso que fiz no ano de 2011 pela SBAU, Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. Antes de tal curso já vinha observando a forma que é realizada algumas das podas em nosso município e em outras localidades e percebi que oque estavam fazendo não era correto em vários aspectos.
Segundo o professor Flávio Barcelos Oliveira biólogo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAM/POA, “... a poda certa é a poda que parece que não foi feita...”.
O que tenho presenciado é uma mutilação as árvores fazendo que elas sobrevivam sufocando no pequeno espaço que lhe destinam sendo retirado praticamente todo seu sistema aéreo (galhos e folhas), onde o corte correto, tanto por lei como por critérios botânicos e estéticos deve ser equivalente a 40% ou 1/3 da copa, de maneira a não prejudicar a espécie.  Além da mutilação ainda por cima não respeitam a crista e o colar, duas partes importantes para cicatrização da planta. A crista envolve a base do galho pelo lado de cima e o colar pelo lado debaixo sem essas partes à árvore não cicatriza e muitas vezes rasgam a casca por não fazer os cortes certos comprometendo a circulação da seiva, nesses casos parte das árvores são contaminadas por fungos ou outras fitopatologias comprometendo sua sanidade.
Muitos não gostam da “sujeira” que elas fazem quando desprendem suas folhas, flores ou frutos. No caso dos frutos concordo que trazem moscas e outros insetos; ai vem do bom senso do proprietário optar em ter uma bela árvore que produza frutos e possa servi-lo e dessa fazer o seu adequado trato, limpeza e descarte correto dos resíduos, nos casos de folhas ou flores tranquilamente podemos aprender a conviver com elas, como convivemos com embalagens e cacarecos de todos os tipos que muitos usuários de áreas urbanas deixam para traz. Eu preferia caminhar entre folhas e flores a cacarecos dos outros.
Acredito que todos podem fazer mais e melhor, podemos plantar árvores para nos dar sombra, purificar o ar, amenizar os ruídos e essas tratar com a dignidade que se trata um ser vivo,              usar lixeiras mesmo que essas estejam a 10m de distancia. Ser cidadão é mais que só respirar o ar de sua cidade, usar os recursos que ela disponibiliza e pagar seus impostos é contribuir para uma vida melhor para todos.
Exemplo de poda mau executada em Jacarandá mimoso (Jacarandá mimosifolia), espécie muito usada em túneis verdes de Porto Alegre.

Descaracterização da espécie, podemos notar novas brotações sendo emitidas pela planta em espaços onde normalmente não brotariam;


dano irreversível comprometendo sua fitossanidade;


descaracterização da espécie, injustificável dano a estética e sanidade da planta, nem cabos de energia passam perto para tentar justificar a "poda";


com tamanho espaço para se desenvolver o que fizeram com esta planta pode ser considerado não uma poda mas sim uma colheita de lenha;

sem comentários.

Alexandre Resmini; certificado em Manutenção de Árvores Urbanas pela SBAU, Sociedade Brasileira de Arborização Urbana.


Matéria publicada 27/01/12 no jornal Informativo Regional

Próximo texto: Paisagem Urbana e Benefícios da Arborização Urbana
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